Vazamento na parede...

De Cartola

Não me lembro bem se estávamos na oitava série ou no primeiro ano do segundo grau.

Toca o sinal das 11h40min e somos liberados para o almoço. Eu costumava dividir um prato em uma cantina na Haddock Lobo com o protagonista desse episódio. Não sei por que razão, demoramos até meio dia na sala, o que fez com que os corredores já estivessem vazios quando da nossa saída.

Descíamos as escadas, quando eu resolvi ir ao banheiro no primeiro andar. Para quem não se lembra, no primeiro andar havia apenas uma sala de aula, sendo um grande espaço nele ocupado pelo salão onde encenamos nossas peças de teatro. Logo perto da entrada do salão havia uma porta pantográfica e um banheiro. Foi para lá que me dirigi.

Pausa. Para as meninas que não conhecem um mictório, trata-se de um comprido recipiente acoplado à parede, destinado à "necessidade fisiológica nº 1 dos garotos". Nessa parede, de ladrilhos, encontra-se um cano na horizontal, cheio de furos pelos quais corre água para conduzir a urina ao ralo. Naturalmente esse cano é alimentado por outro cano na vertical, que lhe traz a água.

Pois bem: por algum possível vazamento no cotovelo que ligava o cano vertical a outro embutido na parede (seria melhor desenhar, mas o espaço não permite...), haviam quebrado a parede em volta desse cotovelo, o que fazia com que da sala de aula do andar se pudesse ver o banheiro masculinho por tal orifício. Não havia maiores problemas nessa situação "provisória" pois tal buraco se encontrava aproximadamente na altura do pescoço dos garotos e ficava na direção central do banheiro.

Visto da sala de aula, o buraco em volta do cano, que devia ter não mais que uns doze centímetros de diâmetro, ficava à direita do quadro de giz, próximo à porta.

Voltando ao caso, eu usava o canto esquerdo do mictório quando o protagonista da nossa estória resolveu "fazer algo diferente". Em vez de usar o mictório da forma certa, com a perversa intenção de deixar uma poça de urina na sala de aula vazia para quando os alunos chegassem, ele sobe na parede do mictório e coloca sua genitália no buraco, urinando em direção à tal sala de aula.

Uma pouco higiênica "traquinagem inocente" e tola, não fosse por um pequeno detalhe: aquela turma (um ano abaixo da nossa) teria aula até 12h30min naquele dia...

Poucos instantes depois, quando eu já lavava as mãos, ouvimos a gritaria de uma coletividade em catarse. Tempo suficiente para o nosso "herói" fechar a calça desesperado e sairmos correndo feito loucos pela escada, para nos escondermos beeeeeem longe dali.

Interessante foi, tempos após, ouvir o relato de algumas alunas daquela sala sobre o acontecido. A aula que estava em andamento seria do prof. Cataldo (geometria). O "negócio" teria aparecido na parede até de forma discreta, sem despertar tanta atenção, até começar a jorrar o jato de urina que apavorou a todos na classe. Contaram que o Cataldo chegou a fazer menção de correr em direção à porta, mas freou e desistiu da idéia para não cruzar a urina que voava da parede. Surreal.

No momento da fuga sequer conseguirmos rir, mas depois o episódio rendeu boas gargalhadas, principalmente quando imaginamos o que se passou do outro lado do muro, na sala de aula.

O Walner e outros se lembram do episódio, mas o protagonista afirma que "se esqueceu", fala em "muuuuito vaga lembrança", desconversa e ME AMEAÇA caso eu aponte sua identidade. Dessa forma, esse será o primeiro conto com protagonista não revelado, mas ao primeiro que adivinhar o responsável eu concederei como homenagem uma rapadura...